O ESTRANHO.

Alguns anos depois que nasci, meu pai conheceu um estranho
recém chegado à nossa pequena cidade.
Desde o principio, meu pai ficou fascinado com este encantador
personagem, e meu pai convidou a viver com nossa família .
O estranho aceitou e desde então tem estado conosco.
Enquanto eu crescia ,nunca perguntei sobre seu lugar em minha
família ,mas sabia que tinha lugar especial.
Minha mãe me ensinou o que era bom e o que era mau, meu 
pai ensinou a obedecer.
Mas o estranho era o narrador, mantinha-nos horas enfeitiçados
com aventuras ,mistérios, comedias.
Através dele sabíamos tudo sobre politica historia ou ciência. 
Conhecia tudo do passado, do presente, até podia predizer 
o futuro, fazia-me rir ou chorar.
O estranho não parava de falar, mas meu pai não se importava
Meu pai dirigia nosso lar com certas convicções morais,mas
o estranho não sentia  obrigado a obedece-las.
Blasfêmias, os palavrões , por exemplo não eram permitidos
nem por parte nossa , nem de nossos amigos,mas nosso visitante
de longo prazo,usava linguagem inapropriada, que queimava
os ouvidos e fazia minha mãe ruborizar.
Meu pai nunca nos deu permissão para tomar álcool ,mas 
o estranho nos animava a faze-lo .
Fez com que o cigarro fosse bom e inofensivo.
Falava livremente ,sobre sexo, seus comentários eram às 
vezes sugestivos, e geralmente vergonhosos.
Mas mesmo assim permaneceu em nosso lar.
Passaram-se mais de cinquenta anos desde que esse estranho
veio para nossa família , mudou muito, já não é tão fascinante,
como era no principio.
Seu nome? Nós o chamamos Televisor.
Agora, este televisor tem uma esposa  que se chama, Computador
e um filho que se chama Celular.
Acho que devemos ter muito cuidado com esses DOIS,já que
o primeiro foi a lareira da sala de visitas de nossas vidas,onde
queimamos nossas raízes.


       bjs   Rosa